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O Porto abriu as portas ao mundo

Nunca como hoje houve tantos turistas no porto. Relação qualidade preço é uma das razões que tem atraído os visitantes. As viagens de avião ‘low cost’ também contribuíram para a afirmação do turismo portuense.


Há mais turistas do que nunca no Porto. Em apenas cinco anos, o Porto recebeu mais 800 mil turistas. Se em 2009, a cidade recebeu 1,4 milhões de turistas, em 2014, o número atingiu os 2,2 milhões, uma subida de 63%, de acordo com dados do Instituto Nacional de Estatística (INE). Com um total de 5,4 milhões de dormidas registadas em 2014, mais 11% que em 2013, o Norte de Portugal ocupa um lugar de destaque no ‘ranking’ nacional, com um acréscimo de 4% na taxa de ocupação e os melhores resultados entre as regiões nacionais. Segundo o INE, a região Norte é uma das que em 2014 mais se evidenciou face ao aumento generalizado das dormidas a nível regional, tendo registado em Dezembro um incremento notório (19,2%) e superior a Novembro (8,6%). Os números revelam um grande impulso do turismo na cidade e na região. Mas a que se deve este crescimento? A visibilidade dada por alguns prémios é uma das razões. 

No ano passado o Porto venceu o prémio European Best Destinations, tendo ficado à frente de cidades com cartas dadas no turismo mundial. Por várias vezes é referido em publicações internacionais como um destino a descobrir. Por outro lado, a conjugação de factores como a boa relação entre qualidade e preço nos hotéis, os acessos, ou a própria beleza da cidade, os seus monumentos e arquitectura, o vinho e o enoturismo têm contribuído para esta ascensão como destino “da moda”. A opinião dos especialistas contactados pelo Diário Económico converge numa série de pontos. E um deles passa pelo aeroporto Francisco Sá Carneiro, que entre 2009 e 2014 recebeu mais 1,4 milhões de passageiros (4,5 milhões e 6,9 milhões, respectivamente), segundo a ANA - Aeroportos de Portugal.

Melchior Moreira, presidente Entidade Regional de Turismo do Porto e Norte de Portugal (Porto e Norte), lembra o crescimento contínuo desta infra-estrutura, com 6,4 milhões de passageiros contabilizados em 2014, através de 14 companhias aéreas. Seabra Figueiredo, director do Executive Master em Gestão Hoteleira Executive da Católica Porto, fala da influência positiva da companhia ‘low cost’ Ryanair, que contribuiu para “um crescimento enorme” no turismo. A estratégia, considera, poderá no entanto ter riscos – por exemplo, se subitamente a companhia irlandesa desistir de voar para o Porto. O docente acredita por isso que deve ser feita uma aposta forte quer em outras companhias de baixo custo mas também no comboio. Citando um estudo feito pela Católica do Porto, uma ligação rápida entre as cidades do Porto, Vigo e Corunha, em Espanha, “traria 150-180 mil pessoas novas ao Porto”. Melchior Moreira lembra ainda a importância do novo terminal de Leixões, que em 2014 recebeu 78 navios e um total de 64.440 passageiros, mais 39% que no ano anterior. Também o transporte náutico de recreio tem contribuído para a procura dos turistas. A crescente procura da oferta marítimo-turística e náutica de recreio do Douro traduz-se nos números: mais 27% de turistas em 2014.

Boa relação entre qualidade e preço A relação qualidade/preço é também apontada como um dos factores mais positivos do Porto. Com vários hostéis e hotéis em destaque (ver artigo da página 24), mas não só. No Trivago Best Value City Index de 2015, o Porto surge como o único representante português na tabela que revela uma lista dos 100 melhores destinos em termos de qualidade-preço. O algoritmo que combina o trivago Hotel Price Index (tHPI) com a reputação dos alojamentos coloca o Porto em 84º lugar, sendo a única cidade portuguesa representada. Também o ranking de reputação do mesmo agregador de portais de busca e reserva de hotéis é positivo para o Porto. A cidade aparece na 19ª posição entre os 100 destinos mundiais com melhor reputação hoteleira, tendo por base mais de 140 milhões de avaliações feitas por viajantes de todo o mundo. A cidade Invicta subiu seis posições face ao ano passado (o estudo é de Janeiro) e é o nono destino europeu, à frente de cidades como Praga, Berlim ou Madrid. Face a 2013, primeiro ano em que foi lançado este ranking, a subida foi ainda maior: 16 posições, sendo que nesse ano ocupava a 35ª posição. Os números e o facto de este ser o primeiro ano em que o Porto está à frente de Lisboa são de destacar.

O aumento da oferta hoteleira no Porto tem contribuído para a sua visibilidade a nível nacional e internacional. Uma oferta que se deu “porque a procura tem vindo a registar taxas de crescimento elevadas e os investidores tenderem a seguir fenómenos de crescimento aparentemente irreversíveis”, considera Eduardo Abreu, consultor da Neoturis. Questionado sobre o que tem a cidade de novo para atrair tantos turistas e, também, unidades de alojamento e hotéis, Abreu não tem dúvidas: “o que a cidade tem de novo pode resumir-se de forma simplista: em 2000 um visitante via “tudo” o que conhecia ou parecia interessante no Porto em algumas horas, com apenas uma noite de hotel. Actualmente, as ‘visitor attractions’ existentes obrigam a estadas maiores, aumentando as taxas de ocupação.

É este processo de melhoria e diversificação contínua que permite a qualquer destino urbano manter a sua atractividade de forma estrutural e não apenas conjuntural”, considera, destacando ainda a recente entrada da Intercontinental, da Crowne Plaza e de um “conjunto importante de grupos espanhóis reforçam a dinâmica da visibilidade da cidade”. Já o especialista da Católica Porto, Seabra Figueiredo, lembra que o facto de muitas unidades hoteleiras ou de alojamento turístico terem sido abertas por pessoas sem qualquer experiência na gestão , que os leva a cometer de erros quer na fase do investimento quer na gestão da unidade, está já a originar um outro fenómeno: o encerramento de alojamentos que não chegaram a atingir a sua maturidade. A entrada no turismo internacional Cidade “sexy” porque reúne “em redor de um rio duas cidades: Gaia e Porto”, como lembra Seabra Figueiredo, o Porto entrou no caminho do turismo internacional, ainda que, recorda o especialista, o facto de não haver voos directos de destinos como Xangai limite a integração do Porto no turismo mundial. As previsões, no entanto, são optimistas.

“Será difícil manter taxas de crescimento de dois dígitos para sempre (como em 2013 e 2014) mas a irreversibilidade do destino no radar dos europeus e a cultura de cidade turística hoje existente permite arriscar uma previsão de crescimento de, pelo menos , 5% por ano nos próximos anos”, antevê Eduardo Abreu. O desafio, considera, será “a capacidade de que a procura pague pelo alojamento um preço superior ao actual e que as unidades hoteleiras evitem uma espiral de baixa de preços que não permita rentabilizar os investimentos efectuados”. Para o especialista, o potencial de desenvolvimento da região é “muito forte”.

“O aeroporto tem capacidade e qualidade, a oferta hoteleira existe e com capacidade para absorver mais hóspedes, o ‘cross-selling’ com regiões limítrofes como o Douro, o crescimento dos cruzeiros de passagem ou partida/chegada à cidade ou a capacidade de reabilitar mais áreas de interesse que permitam prolongar a estada são apenas alguns exemplos”. Por outro lado, há ainda espaço para diversificar os mercados emissores externos, sendo que “o mercado nacional ainda contribui com cerca de 50% da procura total”. Já Melchior Moreira (na foto) ressalva que uma das necessidades prementes da cidade é a criação de um Centro de Congressos que “albergue eventos de grande porte, com capacidade para 1500 pessoas”, isto porque, diz, “temos procura em função dos atractivos que a cidade tem, mas falta-lhe depois esta capacidade de resposta, fazendo com que frequentemente vejamos grandes eventos a fugir para Lisboa, ou outras cidades europeias”. O presidente da Entidade Regional de Turismo do Porto e Norte de Portugal não tem dúvidas que uma infra-estrutura deste tipo potenciaria ainda mais o turismo. A reabilitação urbana A recuperação dos edifícios da cidade é outro dos pontos que mais tem contribuído para a afirmação do Porto enquanto destino de turistas e, também, de investimento. Melchior Moreira defende mesmo que a aposta na recuperação e revitalização urbana tornou “a cidade mais viva, colorida e atractiva”, contribuindo para que o Porto de transformasse numa “das mais apetecíveis cidades europeias”.

Pedro Almeida e Sousa, sócio da sociedade de advocacia portuense Telles, responsável pela área de prática de Imobiliário e Urbanismo, destaca o facto do Porto estar a atrair investimento vindo de França e de outras geografias como o centro da Europa. A “fortíssima carga fiscal para residentes não habituais em Portugal” é um dos motivos para essa atracção de investidores individuais e de promotores. Portugal, refere, e o Porto em particular poderão ainda vir a atrair investidores da Venezuela, Brasil e Angola, ainda que a maioria do investimento seja português”. Uma coisa é certa: quem tem património na cidade está hoje “intelectualmente mais dirigido para a reabilitação”. Mas nem sempre estão preparados para os problemas que acabam por surgir durante o processo de recuperação. Pedro Almeida e Sousa lembra que nas zonas históricas os imóveis estão mal tratados, material e formalmente, e quando o imóvel muda de mãos, “todas estas questões aparecem, retiram valor, e têm de ser resolvidas”.

O advogado defende, por isso, a criação de um gabinete do investidor pela autarquia que ajude a agilizar os processos. A reabilitação urbana não deverá, no entanto, estar apenas associada ao turismo, defende Seabra Figueiredo. O professor da Católica do Porto considera mesmo que a cidade “só será verdadeiramente sustentável quando tiver pessoas e famílias a viver no centro”, devendo as entidades competentes apostar num processo de reabilitação para fixar famílias e “não estar dependente apenas do turismo”. Em 2014 a Porto Vivo SRU emitiu 195 alvarás, sendo muitos deles para construção de hotéis. Em obra estão a ampliação do Hotel Pestana, na Ribeira, o Hotel no antigo palácio dos Condes de Azevedo, na Rua Saraiva de Carvalho, o Hotel no antigo Palácio dos TLP, na Batalha, o Hotel AS no Largo de S. Domingos e o Hotel na Rua Fonte taurina, nas antigas instalações do CRUARB.

Em licenciamento estão projectos para a antiga Pensão Monumental, na Avenida dos Aliados, para a construção de um Hotel no edifício da antiga Casa Navarro, na Praça da Liberdade e, ainda, vários hostels. Resta agora saber se estes novos hotéis vão ao encontro dos gostos dos turistas que, esclarece Melchior Moreira, são “de nível médio alto com formação académica e poder de compra, que viaja tanto em lazer como em negócios” e estão ávidos de conhecer “mais em pouco tempo”, ficando sempre uma porta aberta para o seu regresso.